Por Jair Alves - dramaturgo/SP
Apesar da excelência da profissão, eu sou ator e não palhaço. Existe uma diferença sutil entre as duas atividades e é bom que seja explicitada. O ator interpreta a comédia, mas também o drama se faz parecer aquilo que não é. E se for competente e tiver talento terá alguma chance de ser bem remunerado, embora no Brasil ter talento e aptidão não significa ser reconhecido e feliz. Eu, por exemplo, nunca soube de fato se tinha talento ou mesmo aptidão, mas isso não importa, pois não sou eu quem está na berlinda e nenhuma outra pessoa individualmente. O palhaço, apesar de ser contratado e pago para fazer rir às vezes faz chorar. Já diziam os versos do compositor carioca, Billy Blanco, que "O que dá pra rir dá pra chorar. Questão só de peso e medida". Esta é a "deixa" que estava faltando para eu falar porque sou ator, não palhaço. Imagino que esteja nessa indignação, assim como um grande número de pessoas no dia de hoje ao saber da primeira manifestação oficial do presidente Lula, após o episódio no Maracanã, na última sexta-feira. Muita gente, assim como eu, indignou-se na abertura do Pan ao ver o circo armado (as provas de ter sido essa uma cena previamente construída se multiplicam). Eu de minha parte chamei aquilo tudo de um Coro de Calhordas e continuo achando a mesma coisa, apesar de ter lido dezenas de impropérios e asneiras, como a de uma senhora que se dizia médica, em Santo André, que além de apontar com o dedo "o autor do assassinato de Celso Augusto Daniel", ainda ousou "explicar" por que Lula perdeu o dedo. Ela tentou me convencer que foi de propósito. Em resposta perguntei se ela sabia que o tal dedo tinha sido esmagado num torno mecânico. Ela que por certo nunca ouviu ou sequer leu a expressão 'Torno Mecânico, não respondeu, nem vai responder.
Como se vê os calhordas de fato existem. Como também de fato existe um presidente que foi insultado, não em sua biografia, mas no seu status de mandatário da Nação Brasileira. No entanto, no seu programa de hoje "Café com o Presidente" Lula disse estar triste sentindo-se "como se eu fosse convidado para o aniversário de um amigo meu, chegasse lá e encontrasse um grupo de pessoas que não queria a minha presença lá". O presidente da República errou e sua assessoria de comunicação mais ainda. Ele não era um convidado nessa história de Pan Rio, ele é a pessoa que paga a conta e, portanto, tem que exigir tratamento mais adequado para a ocasião. Eu poderia chamá-lo de *“baiano”nas rodas de amigos, no *Bar da Rosa (local onde se encontravam os dirigentes do Sindicato dos Metalúrgicos - em SBC), mas enquanto ele estiver na presidência tenho obrigação de chamá-lo Senhor Presidente. Do contrário, a "palhaçada" continua até chegarmos a um outro misancene - a tragédia. A imagem de bem comportado não lhe cai bem, principalmente num país que ainda acredita na "mão pesada de Deus", expressão esta que com certeza tem muito impacto no imaginário brasileiro.
Como ator sei perfeitamente o que isso quer dizer. O presidente também deveria saber, assim como seus assessores - entre eles Franklin Martins. Este, além de conhecer sua profissão conhece também o que é uma guerra. Franklin faz parte da história brasileira num momento aonde guerra não era retórica, mas expressão do que vivíamos na época. Ele deveria alertar Lula, o presidente, que estamos vivendo em plena guerra, e não uma partida de futebol, embora o cenário tenha sido o Maracanã. Hoje pela manhã Cesar Maia - este sim um palhaço sem picadeiro - zomba do Presidente, em sua coluna diária, fazendo elucubrações a respeito da 'dor sentida pela vaia'. Um estadista, um homem público sério ocuparia esta tribuna pessoal para (mesmo não acreditando nisso) dizer que aqueles que vaiaram o presidente agiram de forma inadequada. Mas ele não fez isso, ao contrário, mostrou verdadeiramente quem ele é, como um palhaço faz no exercício da sua profissão. Ele fez 'graça' com a infelicidade que não é dele e nem se importou em esconder aquilo que qualquer ser letrado já tinha entendido.
O final de semana foi pródigo em pistas para entendermos o enredo que estamos interpretando. Explico: um outro Silva, Diogo da Silva, primeiro atleta brasileiro a ganhar medalha de ouro na categoria TAEKWONDO acusa o Comitê Olímpico Brasileiro e o seu presidente - o mesmo que assumiu o lugar de Lula ao anunciar a abertura do PAN. Diogo da Silva, a nova personagem nacional, revela a miséria da ajuda de custo que recebe para representar o Brasil. Diogo da Silva saiu das ruas, onde se defendia na vida a dentadas, para uma academia. Saiu das ruas de Londrina, cidade ao norte do Paraná - uma das regiões mais ricas do Brasil, mas com índice de violência espantoso, para interpretar o personagem que é a sua cara, a sua própria imagem. Uma perfeita metáfora do Brasil social em que vivemos. No meu entendimento faltou e está faltando ao Silva, da presidência do Brasil, uma dose de rebeldia dessa valentia demonstrada pelo atleta do Taekwondo.
As conseqüências não cessam aqui, a exemplo de tantos episódios envolvendo a vida nacional. Talvez tenha sido o grande teste para os defensores de uma nação democrática e próspera. É possível que esses estejam esnucados. A próxima tacada ainda é do presidente do Brasil. Quanto aos demais, os organizadores da torcida adversária, estes estão eufóricos porque perceberam uma falha em nossa defesa. Como disse certa vez um outro compositor em outro Maracanã (maracanãnzinho): "a vida não é feita só de festivais". E sua canção se tornou eterna, mesmo tendo como concorrente a dupla Chico-Jobim.
(*) Baiano era o apelido de Lula durante o seu período inicial de sindicalista
(**) Bar da Rosa é o bar ao lado do Sindicato dos Metalúrgicos, aonde se encontravam os sindicalistas.
Apesar da excelência da profissão, eu sou ator e não palhaço. Existe uma diferença sutil entre as duas atividades e é bom que seja explicitada. O ator interpreta a comédia, mas também o drama se faz parecer aquilo que não é. E se for competente e tiver talento terá alguma chance de ser bem remunerado, embora no Brasil ter talento e aptidão não significa ser reconhecido e feliz. Eu, por exemplo, nunca soube de fato se tinha talento ou mesmo aptidão, mas isso não importa, pois não sou eu quem está na berlinda e nenhuma outra pessoa individualmente. O palhaço, apesar de ser contratado e pago para fazer rir às vezes faz chorar. Já diziam os versos do compositor carioca, Billy Blanco, que "O que dá pra rir dá pra chorar. Questão só de peso e medida". Esta é a "deixa" que estava faltando para eu falar porque sou ator, não palhaço. Imagino que esteja nessa indignação, assim como um grande número de pessoas no dia de hoje ao saber da primeira manifestação oficial do presidente Lula, após o episódio no Maracanã, na última sexta-feira. Muita gente, assim como eu, indignou-se na abertura do Pan ao ver o circo armado (as provas de ter sido essa uma cena previamente construída se multiplicam). Eu de minha parte chamei aquilo tudo de um Coro de Calhordas e continuo achando a mesma coisa, apesar de ter lido dezenas de impropérios e asneiras, como a de uma senhora que se dizia médica, em Santo André, que além de apontar com o dedo "o autor do assassinato de Celso Augusto Daniel", ainda ousou "explicar" por que Lula perdeu o dedo. Ela tentou me convencer que foi de propósito. Em resposta perguntei se ela sabia que o tal dedo tinha sido esmagado num torno mecânico. Ela que por certo nunca ouviu ou sequer leu a expressão 'Torno Mecânico, não respondeu, nem vai responder.
Como se vê os calhordas de fato existem. Como também de fato existe um presidente que foi insultado, não em sua biografia, mas no seu status de mandatário da Nação Brasileira. No entanto, no seu programa de hoje "Café com o Presidente" Lula disse estar triste sentindo-se "como se eu fosse convidado para o aniversário de um amigo meu, chegasse lá e encontrasse um grupo de pessoas que não queria a minha presença lá". O presidente da República errou e sua assessoria de comunicação mais ainda. Ele não era um convidado nessa história de Pan Rio, ele é a pessoa que paga a conta e, portanto, tem que exigir tratamento mais adequado para a ocasião. Eu poderia chamá-lo de *“baiano”nas rodas de amigos, no *Bar da Rosa (local onde se encontravam os dirigentes do Sindicato dos Metalúrgicos - em SBC), mas enquanto ele estiver na presidência tenho obrigação de chamá-lo Senhor Presidente. Do contrário, a "palhaçada" continua até chegarmos a um outro misancene - a tragédia. A imagem de bem comportado não lhe cai bem, principalmente num país que ainda acredita na "mão pesada de Deus", expressão esta que com certeza tem muito impacto no imaginário brasileiro.
Como ator sei perfeitamente o que isso quer dizer. O presidente também deveria saber, assim como seus assessores - entre eles Franklin Martins. Este, além de conhecer sua profissão conhece também o que é uma guerra. Franklin faz parte da história brasileira num momento aonde guerra não era retórica, mas expressão do que vivíamos na época. Ele deveria alertar Lula, o presidente, que estamos vivendo em plena guerra, e não uma partida de futebol, embora o cenário tenha sido o Maracanã. Hoje pela manhã Cesar Maia - este sim um palhaço sem picadeiro - zomba do Presidente, em sua coluna diária, fazendo elucubrações a respeito da 'dor sentida pela vaia'. Um estadista, um homem público sério ocuparia esta tribuna pessoal para (mesmo não acreditando nisso) dizer que aqueles que vaiaram o presidente agiram de forma inadequada. Mas ele não fez isso, ao contrário, mostrou verdadeiramente quem ele é, como um palhaço faz no exercício da sua profissão. Ele fez 'graça' com a infelicidade que não é dele e nem se importou em esconder aquilo que qualquer ser letrado já tinha entendido.
O final de semana foi pródigo em pistas para entendermos o enredo que estamos interpretando. Explico: um outro Silva, Diogo da Silva, primeiro atleta brasileiro a ganhar medalha de ouro na categoria TAEKWONDO acusa o Comitê Olímpico Brasileiro e o seu presidente - o mesmo que assumiu o lugar de Lula ao anunciar a abertura do PAN. Diogo da Silva, a nova personagem nacional, revela a miséria da ajuda de custo que recebe para representar o Brasil. Diogo da Silva saiu das ruas, onde se defendia na vida a dentadas, para uma academia. Saiu das ruas de Londrina, cidade ao norte do Paraná - uma das regiões mais ricas do Brasil, mas com índice de violência espantoso, para interpretar o personagem que é a sua cara, a sua própria imagem. Uma perfeita metáfora do Brasil social em que vivemos. No meu entendimento faltou e está faltando ao Silva, da presidência do Brasil, uma dose de rebeldia dessa valentia demonstrada pelo atleta do Taekwondo.
As conseqüências não cessam aqui, a exemplo de tantos episódios envolvendo a vida nacional. Talvez tenha sido o grande teste para os defensores de uma nação democrática e próspera. É possível que esses estejam esnucados. A próxima tacada ainda é do presidente do Brasil. Quanto aos demais, os organizadores da torcida adversária, estes estão eufóricos porque perceberam uma falha em nossa defesa. Como disse certa vez um outro compositor em outro Maracanã (maracanãnzinho): "a vida não é feita só de festivais". E sua canção se tornou eterna, mesmo tendo como concorrente a dupla Chico-Jobim.
(*) Baiano era o apelido de Lula durante o seu período inicial de sindicalista
(**) Bar da Rosa é o bar ao lado do Sindicato dos Metalúrgicos, aonde se encontravam os sindicalistas.
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