(Para Gegê e para Mário, o Cisne Negro)
Embora fraco e bem mal das pernas, anda por aí um movimento das elites que ora toma o nome de “Cansei”, e ora toma a data de 7 de setembro, às 17:00 horas, para que se faça um grande minuto de silêncio nacional (às vezes a sugestão é para que se faça um minuto de barulho) – enfim, bastante fraco e mal das pernas por diversos motivos, e o principal deles é que é um movimento composto de muito pouca gente, tendo em vista o reduzido número de pessoas que forma essa tal de elite, embora há que se convir que é um reduzido número de pessoas, mas que são pessoas dotadas de grande poder, principalmente o financeiro.
Essa gente a que chamo de elite não surgiu do nada assim da noite para o dia, não foi tirada da cartola de um mágico assim como se fosse um coelho, não. A maior parte dessa pouca gente vêm se perpetuando no poder (principalmente o econômico) lá desde os tempos da Capitanias Hereditárias, e foi dona da grande descoberta que foi o açúcar para todo o mundo (para quem não sabe, até que se achasse uma terra chamada Brasil e se passasse a nela produzir açúcar em grande escala, tal produto, antes, era privilégio apenas da nobreza e do clero europeus, e quase sempre se sentia o sabor da doçura lambendo mel de abelha – naqueles idos, muito pobre deve ter sido enforcado porque deu uma lambidinha onde não devia), e depois do ouro de Minas Gerais, e depois do café de São Paulo, e das indústrias, e não há que esquecer que o antepassado de muita gente enriqueceu no abjeto comércio feito pelos navios negreiros – e não quero ofender ninguém dizendo que alguém teve antepassados trapaceiros, mas quem é que tudo sabe sobre o passado?
O fato é que a chamada elite foi se formando e está aí, e domina o país desde os tempos das Capitanias Hereditárias, e cresceu e engordou um bocado conforme chegava mais e mais gente a este país, e a gente sabe que quase sempre, entre um magote de gente nova, vem junto algum vivaldino pronto a vender a mãe para pisar num degrauzinho mais acima na escala do poder – o fato é que a tal elite se formou e está aí, e além de se reproduzir biológicamente, também toma um cuidado danado para manter uma reprodução ideológica, e vive a formar um ou outro pensador bom e muitos pensadores de meia-tigela, que decoram a lição que devem recitar tão bem decoradinha que, muitas vezes, quando os ouço, fico com urticária. E a tal da elite costuma se vestir bem, estudar em bons colégios feitos para gente da sua prole continuar pensando na importância de se ter poder, ter um padrão de vida que seria de grande agrado de muita gente que nunca poderá nem sonhar em chegar lá, mas que tem a cabeça feita por certas novelas e outros programas de televisão, cujas emissoras também são da mesma elite, e que põem na cabeça da grande multidão que já foi chamada de “os descamisados” que se a multidão for bem dócil, e se mantiver bem boazinha, e trabalhar muito sem nunca reivindicar nada, mais tarde a tal multidão ficará igualzinha àquela gente rica e poderosa que existe nas novelas – enfim, a elite existe e está aí, não é segredo para ninguém.
Só que agora a elite está dizendo que cansou, que quer fazer manifestação de protesto no dia 7 de setembro! Estou aqui querendo entender do que é que essa miséria de gente lá do pico da pirâmide cansou – maracutaias ela faz e apoia desde os tempos das Capitanias Hereditárias – qual é a novidade que está acontecendo? Eu fico observando as coisas e vendo como tal gente anda pulando igual macaco quando quer levar chumbo, segundo antigo ditado de cá da minha terra – desde as desonestidades que acontecem nos mais altos círculos do poder – e, convenhamos – os ditos círculos são compostos majoritariamente pela tal elite, que lá está faz séculos! – até quedas de aviões, tudo a tal da elite atribui, neste momento, ao governo federal – preferencialmente ao Presidente da República. E olhem que o Presidente da República anda que é uma tetéia com essa cereja do bolo, todo cheio de agradinhos para com aquela gente poderosa que continua pulando como se quisesse levar chumbo - nem vou enumerar aqui um bocado de agrados que a dita elite vêm recebendo: para quem não é observador muito atento, sugiro que consulte primorosa relação de agrados que a minha amiga e jornalista Elaine Tavares recém publicou, conforme nota mais abaixo.
Daí é que eu estou há tempos a observar essa gente poderosa pulando como se quisesse levar chumbo, e tentando entender o que se passa com ela, e não fica difícil a compreensão. Falei mais para cima na reprodução biológica dessa gente, dos nenenzinhos que nascem lá nos seus berços de ouro e que eles moldam do jeito que lhes fique melhor e mais os orgulhe – e esses nenenzinhos crescem nas maiores mordomias, nos ditos melhores colégios, vão fazer seus doutorados em importantes universidades da Europa – e voltam, em grande parte das vezes, tão incompetentes quanto é possível. Pelo menos, não tem nenhum deles ocupando o cargo de Presidente da República, atualmente. Quem está ocupando o cargo de Presidente da República é um operário, com diploma de torneiro mecânico. E esse operário se elegeu, e se reelegeu, e o pessoal que não se conforma com tal coisa vive mandando fazer pesquisa de opinião, e o operário continua na crista da onda dentre aquele povo que era para ser totalmente subserviente – dá nos nervos, não dá?
Eu nem estou dizendo que o Presidente operário seja alguém de minha grande admiração – os agradinhos e agradões que ele anda fazendo para a elite me dão a maior coceira, quebraram o meu encanto faz tempo – mas o fato é que ele existe, e está lá, e a elite não se conforma com uma tristeza assim tão grande nas suas vidas. Como é que pode ter acontecido uma coisa assim? Cadê os incompetentes filhinhos-de-papai e os seus diplomas da Sorbonne, que deixaram um operário passar-lhes a perna?
Na minha avaliação, ser governada por um operário dá a maior canseira na elite, dá essa vontade toda de ficar pulando como macaco que quer levar chumbo. Penso: como reagirá essa gente no dia em que, ao invés de um operário, for eleito um negro para governar o país? Aí é que eu quero ver! Tem muita coisa, ainda, para acontecer nesta nossa Terra de Santa Cruz! Vale a pena viver para ver!
Blumenau, 30 de agosto de 2007.
Urda Alice Klueger
Escritora
segunda-feira, 3 de setembro de 2007
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2 comentários:
Caro jair Alves:
Estranho, no seu artigo, a falta de qualquer alusão a corrupção institucionalizada na qual o governo Lula se meteu. Me parece que vc, a exemplo da criticada "elite", só vê o que quer ver, ou seja, perdeu a imparcialidade em nome da "imparcialidade"
Celso,
Não fui eu quem escreveu o artigo, e sim a escritora Urda.Peço que entgre em contato com ela e exponha o seu ponto de vista.Urda -urda@flynet.com.br
grato jair alves. Mande seu e-mail para que possamos trocar mais idéias.
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