POR QUE SERÁ QUE DANILO NÃO SE LEMBRA?
J.alves - dramaturgo e escritor
Tinha feito um voto de não aborrecer Danilo dos Santos de Miranda, diretor do SESC-SP, pela sua desastrada participação no programa do Jô, em novembro deste ano, porém com a manifestação de arrogância do ex-presidente FHC, na última semana, fazendo digressões a respeito da Cultura e Educação, com alvo certo no atual e eterno presidente Lula, me sinto no direito de autopsiar a dita entrevista, citada acima. Vivemos hoje tempos bicudos, como se dizia nos anos da Ditadura, pois não basta ter o poder do Estado nas mãos. O povo, por certo, não tem o poder econômico, nem o controle das instituições mais poderosas e, muito menos, um canal para se expressar, sem censura. O povo ainda continua “falando de lado, olhando pro chão”, como diz aquela música de Chico Buarque.
Senão vejamos: que conceito de educação é este, anunciado por FHC em seu mais recente manifesto? Educação pressupõe preparação, conhecimento. Cultura é outra coisa. Na definição do educador Paulo Freire, Cultura é o que resulta da ação do homem sobre a Natureza, inclusive sobre a natureza humana. Nem sempre conhecimento acumulado significa cultura, pode significar erudição. Propositalmente, o ex-presidente, como é sabido, não se comporta como tal, mas sim como um rei destronado que nos quer fazer entender que falar duas línguas ou mais é o supra-sumo do conhecimento. Não é! Sendo assim, em que medida nós podemos considerar uma pessoa preparada, culturalmente? A começar de Danilo dos Santos de Miranda, citado acima, essa definição parece entrar em colapso, considerando sua performance no Programa de Jô Soares. Ele tinha sido ‘programado’ para falar sobre uma publicação do SESC-SP, dos últimos sessenta anos.
Segundo os parcos informes que se pode conseguir pela Internet, ele teria vindo para São Paulo, na década de 60, para integrar o quadro profissional dessa entidade. Era de se esperar que tudo o que tivesse acontecido, no âmbito paulistano, seria do seu inteiro conhecimento, sem erros, sem lapsos. Isso é o que se espera de uma pessoa preparada culturalmente. Nos primeiros seis minutos (no vídeo de 9 minutos, disponível no site da TV Globo) ele errou todas as informações, de forma bisonha, a saber:
- Imaginou que Pelé tivesse feito inscrição da sede do SESC-Baurú, em 54 (como se isso tivesse influenciado significativamente a carreira do genial futebolista), na verdade foi em 56;
- Não reconheceu em que circunstância foi tirada uma foto do diretor Flávio Rangel, ao lado de Cleyde Becker Iaconis (irmã da atriz Cacilda Becker), mais conhecida como Cleyde Yáconis e Laerte Morrone. A foto é de 1972, ensaios de A Capital Federal;
- Imaginou que a foto de Fernanda Montenegro fosse da peça Um Bonde Chamado Desejo (de Tennessee Williams). Não é. Na verdade, é de “Seria Cômico se Não fosse Sério" (de Fredrich Durremath), com seu marido Fernando Torres e Silvio Zilber -1976;
- Não soube dizer em que ano e muito menos que foto é aquela, em que Eva Vilma e Nuno Leal Maia aparecem lado a lado. AÍ sim, Um Bonde Chamado Desejo;
- Confundiu Paulo Autran com Raul Cortes, em O Homem Dela Mancha;
- Não reconheceu a atriz Regina Duarte, em Santo Inquérito;
- E, pior, chamou Perry Sales de Peri, ao lado de Marília Pêra. Imagino, que no papel de Ceci!
Somente a partir do sétimo minuto (dos nove que durou a entrevista), ele começou a associar o nome à pessoa.
A pergunta que fica é: por que essas mesmas pessoas que idolatram Danilo dos Santos de Miranda, como um homem talhado para ser o Ministro da Cultura do governo PSDB (segundo eles, a partir de 2011) consideram-no preparado? Tal convicção seria calcada no conceito de ser ele culto e erudito? Aqui à distância vemos não se tratar de nenhuma coisa nem outra. Talvez, a resposta esteja nas próprias palavras de Danilo, nos minutos iniciais, quando defende que é permitido esquecer, ou apagar da memória, fatos traumáticos que não queremos lembrar. Seria essa a máxima de FHC? Se for isso, não é difícil entender porque os teóricos do Neoliberalismo defendem tanto o fim da História.
No terreno absolutamente pessoal, tenho curiosidade de saber por onde andava Danilo, no exato momento em que essas peças eram apresentadas no Teatro Anchieta (SESC Vila Nova), e que ele publica, agora, como parte da história da entidade? Ouso apostar num palpite - estava ocupado com outras coisas, não com a Cultura!
Link – Programa do Jô:
http://video.globo.com/Videos/Player/Entretenimento/0,,GIM754910-7822-DANILO+MIRANDA+LANCA+LIVRO+SOBRE+A+IMPORTANCIA+DA+PRESERVACAO+DA+CULTURA,00.html
quarta-feira, 28 de novembro de 2007
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Danilo Santos de Miranda é um mito construído artificialmente. O lastro para isso não foi sua tradição cultural, realmente desconhecida, mas o generoso e misterioso orçamento da entidade que controla. Sectários da produção cultural, intimamente relacionados ou mesmo ligados aos poderes públicos, têm acesso privilegiado a essa benesse. O negócio é perfeito, ao invés de dólares em cuecas, projetos milionários como moeda para aquisição de prestígios e canais políticos.
Postar um comentário