OS DOIS JORNALISTAS DA VEJA QUE ESCREVERAM SOBRE CHE EDEVERIAM LAVAR AS MÃOS COM DETERGENTE
Deonísio da Silva
As palavras anônimo, sinônimo, antônimo e pseudônimo são nossas velhas conhecidas. Já para saber qual o significado da palavra alônimo, talvez seja necessário consultar um dicionário.
O étimo grego ónoma, que quer dizer nome, está em todas essas cinco palavras.
Conhecemos carta anônima, aquela sem autoria, isto é sem nome que a identifique.
O sinônimo é a palavra empregada no lugar de outra, mas com o mesmo significado ou significado muito semelhante. Asno, burro e jumento, por exemplo. E no sentido metafórico, tolo, bobo, simplório, ingênuo, pasmado.
O antônimo, ao contrário do sinônimo, tem significado oposto. Neste sentido, o antônimo de burro é encontrado em outros animais: águia, arara, raposa, macaco.
Nossos preconceitos contra os animais me deixam sempre cabreiro. Viram? Temos também a cabra, sinônimo de desconfiado e antônimo de burro.
Chamar um desses políticos ladrões e indecorosos de cachorro é ofender o mais fiel amigo do homem. Chamar um político ladrão de gatuno é ofender o bichano, que só afana em caso de necessidade. Um gato bem alimentado perambula por toda a casa, não rouba nada.
Sei disso porque minha filha sempre conviveu com gatos, o que me leva atualmente a ser avô de dois, com nomes de gente: Licurgo e Catarina. Uma outra gata, que se chamava Mercedes, morreu há alguns anos, acompanhando três chinchilas: Sigmund, mais conhecido por Sig; Ludwig van Beethoven, mais conhecido por Ludi; e Libânio, nossa homenagem a um dos mais fiéis amigos da família, Frei Betto, cujo nome é Carlos Alberto Libânio Christo. Minha chinchila atual chama-se Salomé, mas como o sexo dos animais assim pequenos é muito complicado de ser definido, talvez seja Salomão, pois tem uns comportamentos de macho.
Minha filha quis homenagear a personagem Mercedes, que vem viver o último amor de sua vida na Fazenda Pinhal, casando-se com o escritor que narra a Retirada da Laguna em Avante, Soldados: Para Trás, meu romance que sairá na Itália, ano que vem. O tradutor, que está no Rio, me diverte com suas perguntas: “Che cosa vuol dire mosca varejeira? No Brasil há algum inseto que atua apenas no varejo? Não entendi!”.
Já alônimo – vocês não precisam ir ao dicionário, não estou aqui para chateá-los ou dar-lhes lições – significa outro nome (do grego allos nomos).
O alônimo é semelhante ao pseudônimo, palavra igualmente vinda do grego pseudónomos que, conquanto fortemente pejorativo, pois em grego pseudés é mentiroso, falso, enganador, se tornou recurso lícito, adotado por vários escritores e artistas.
Usam pseudônimos ou alônimos vários atores e atrizes brasileiros. Paulo Gracindo, Lima Duarte, Fernanda Montenegro e Tônia Carrero foram registrados com outros nomes. Na certidão de nascimento, Paulo Gracindo é Pelópidas Guimarães Brandão Gracindo. Lima Duarte é Aryclenes Venâncio Duarte. Fernanda Montenegro é Arlete Montenegro. Tônia Carrero é Maria Antonieta Portocarrero Thedim.
O costume não é apenas brasileiro. A atriz Demi Moore chama-Demétria Gene Guynes. O nome do canto Elton John é Reginald Kenneth Dwigth.
A ministra Marta Suplicy, cujo nome de solteira é Marta Teresa Smith de Vasconcelos, continuou com o sobrenome do ex-marido, o senador Eduardo Matarazzo Suplicy, mesmo depois de ter casado com Luís Favre, pseudônimo de Felipe Belisário Wermus.
Jesus não usou pseudônimos, mas passou a ser conhecido por diversos alônimos. O mais conhecido é Cristo. Já Lúcifer, que significa cheio de luz, é o príncipe da trevas, pois ele é o pai dos pseudônimos, isto é, dos nomes falsos, tendo vários sinônimos. Satanás, Demônio, Diabo e Coiso são os mais conhecidos.
Ernesto Guevara Lynch de La Serna adotou o alônimo ou pseudônimo de Che. Passou a ser conhecido como Che Guevara. Depois de derrotado, preso e imobilizado, foi executado nas selvas da Bolívia por militares comandados pela CIA, no dia 9 de outubro de 1967. Terça-feira, comemoram-se quarenta anos de sua morte. Se vivo estivesse, Che estaria com 79 anos. Morreu tentando libertar pobres oprimidos. Podia ser um médico rico em qualquer lugar do mundo, se trabalhasse a serviço dos ricos. A revista VEJA deve lavar com detergente dos bons as mãos dos dois jornalistas que escreveram sobre ele semana passada.
Vivemos um tempo em que quem não quis ou não quer apenas ganhar dinheiro, é tratado como bobo. Não há dinheiro que possa comprar a sua vida! O presidente do Senado, pelo que deu à amante, sabe ganhar dinheiro, mas não poderia, se morasse no Rio, sair à rua para tomar um cafezinho. Vive escondido num bunker chamado Brasília. Ele pode dizer que seu nome é Renan Calheiros. Mas nós o conhecemos por outros nomes, pseudônimos, sinônimos, antônimos e alônimos. (xx)
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domingo, 7 de outubro de 2007
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