sábado, 26 de julho de 2008

NO BLOG DO NASSIF


ARTES, LITERATURA E A CIVILIZAÇÃO: ELAS QUE SE DANEM!
Publicado por Jair Alves em 21 July 2008 às 13:19 em Mídia

Poderia a arte e a literatura atuar, positivamente, na solução de questões nacionais? Poderia, mas por enquanto não. Esse entrave é a predominância de um embate político partidário, na imprensa diária, que ela não consegue se livrar e que já encheu os “picuás”.

Em entrevista recente, ao ex-deputado e ex-ministro José Dirceu, um ex-líder estudantil e ex-parlamentar do PT, Vladimir Palmeira, surpreendeu a todos dizendo que, se vencedor, o Movimento Estudantil de 68 desembocaria numa extraordinária produção artístico-cultural. Se verdadeira esta afirmativa (acho que sim) seria mais uma prova da importância que a cultura tem na vida de cada cidadão. Surpreendente, também, que nos dias de hoje, com a liberdade de expressão que desfrutamos, não experimentemos essa explosão criativa.

Para inverter esta tendência, ou seja, a polarização citada acima para o retorno das artes e da literatura, na vida dos brasileiros, antes de tudo será preciso um esforço dos profissionais dos três (3) setores (arte, literatura e imprensa), na busca de pautas ligadas à contemporaneidade. A vida do brasileiro não se resume ao Parlamento e a sua relação com as redações dos maiores veículos de Comunicação. O país pulsa e se desenvolve, através de outros segmentos: econômico, histórico e cultural, o que, seguramente, não está sendo refletido nas páginas dos jornais, tão pouco nos palcos brasileiros. A literatura, talvez, seja a exceção, no entanto padece de um entrave gigantesco. A Indústria Editorial está atrelada a determinados pontos de distribuição e venda dessa produção, enquanto o volume de títulos, anual, é muito grande em relação ao mercado consumidor existente. Este precisa se expandir, porém encontra aí seu maior obstáculo: a imprensa especializada que restringe esta venda a um universo muito estreito da população, aquela que tem renda familiar, acima de dez (10) salários mínimos.

Um outro fator que contribui, significativamente, para emperrar uma pauta que discuta nosso desenvolvimento, principalmente nosso subdesenvolvimento, é a omissão sobre a realidade das décadas de 80 e 90, projetada nos dias atuais. Este período não é levado em consideração e, curiosamente, quando se evoca a memória, busca-se o passado anterior à movimentação desse período. A própria expressão “década perdida”, já é uma forma de se escamotear à realidade, uma vez que houve, de fato, uma história política e cultural.

Na virada da década de 70 para 80, surgiu um tipo de literatura que acabou contagiando as demais formas de expressão - a literatura confessional. No que consiste esta literatura? No relato da história, pessoal, como reflexo do período em que viveu o personagem principal e autor da obra. Os casos mais expressivos (em número) são: do jornalista e militante, Fernando Gabeira (O que é isso companheiro); e, de importância, o, hoje, escritor consagrado, Marcelo Rubens Paiva (Feliz ano Velho). A pergunta que fica é por que se vendeu tanto livro, nesse período? Porque havia uma demanda, reprimida, na maioria da população jovem, potencialmente apta a ler esses relatos. Para eles, era uma curiosidade muito grande saber como viviam os personagens, clandestinos ou, como no caso de Marcelo Rubens Paiva, fechados em suas pequenas tribos.

A Censura criou essa expectativa, ao longo dos anos de chumbo, assim, esta literatura que influenciou o teatro (no caso de Paiva) e cinema (no caso de Gabeira), desenvolveu um mercado, embora não tenha criado vínculos com a literatura mais elaborada. Nesse vazio, as Editoras foram obrigadas a dar toda força para a literatura de auto-ajuda. A situação não é tão simples assim, automática, mas apresenta algumas evidencias da falta de espaço para aqueles que se detiveram a desenvolver uma escrita contemporânea. Um dos exemplos se manifestou na demora das filmagens do livro de Gabeira - praticamente 15 anos depois. Esta demora transformou a película, num quase pastiche, o que motivou muitos e justos protestos. O filme foi exibido, em muitos festivais, como de ação e não um filme político. Esta é a prova que a informação histórica trazida pelo autor do livro, por essa época, já tinha sido absorvida pela realidade e pelos debates que se seguiram, dessa vez pela imprensa.

Hoje, resta o “esquecimento” sobre a década de 80, até o filme “Entreatos”, de João Moreira Salles, que documenta a chegada de Lula à Presidência da República, como o fator principal do boicote a uma arte e literatura mais atuante, mais ousada. O grande trunfo das Artes e da Literatura é fazer pensar, o que pode ser mortal para o status quo. É preciso dar voz e vez àqueles que ousam sonhar o futuro como fizeram, no passado, os grandes artistas da década de 60 e 70. Tanto no teatro quanto na literatura, é necessário resgatar a fábula, como fizeram as montagens do Grupo Oficina, Movimento Tropicalista e a Bossa Nova - Inventar uma nova forma de expressão, é inventar um mundo melhor.

A minha referência é a prosopopéia “Panamérica”, de José Agripino de Paula, falecido no ano passado. Para alguns, é a poesia, concretista, dos Irmãos Campos, enquanto para outros é o poeta Paulo Leminski ou a escritora Clarice Lispector. Mas, todos eles, nos levam ao Paraíso. Ao ter meu início de noite, invadido por personagens, via satélite, que não teriam sequer espaço nos livros de Adelaide Carraro, nem mesmo no seu livro campeão de vendas (Eu e o Governador), me pergunto: Que país é esse? Quase sempre, me lembro de Renato Russo, Cazuza e Cássia Eller: artistas estes que se foram, antes de ter o merecido reconhecimento. Reconhecimento, para mim, é imaginar o Maracanã ou o Morumbi, lotados, gritando a todo pulmão: Oh; Oh; Oh; Renato é nosso Rei. Uh; Uh; Uh; a Cássia é a nossa vez. Cazuza, idem!

Jair Alves - Dramaturgo/SP

(*) Título inspirado na composição de Gilberto Gil, "Cultura e Civilização": A cultura e a civilização, elas que se danem, ou não!

Responder até Carlos em 21 July 2008 at 14:59
Não podemos comparar os dias de hoje com os anos sessenta. Aliás, não devemos fazer esta comparação. Aqueles foram anos revolucionários, seja na música, no teatro, no cinema. Não foram revolucionários porque alguém ou algum grupo, de repente, resolveu que seriam assim. Há que se considerar todo o contexto histórico, cultural e político que antecederam aquelas mudanças. Discordo quando você diz: "Surpreendente, também, que nos dias de hoje, com a liberdade de expressão que desfrutamos, não experimentemos essa explosão criativa." A coisa é muito mais complexa. Não basta liberdade de expressão para que se dê explosão criativa. Tem que ter matéria-prima. Nos anos sessenta havia de sobra. Pegue o exemplo da música tropicalista: elementos da bossa-nova mais elementos do rock (pop britânico e psicodelismo, principalmente), transformados por talentos como Caetano, Gil, Tom Zé, Rogério Duprat, Julio Medaglia e por aí vai.
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Responder até Jair Alves em 21 July 2008 at 15:36
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Meu caro Carlos,

Vc discorda por discordar. É evidente que aqueles anos foram diferentes dos atuais. Eu não disse o contrário. Nassif postou neste final de semana algumas gravações antes da Bossa Nova, é visível a transformação é tão pouco tempo. Evidente que mais tarde surgiram Tropicalismo e outras manifestações. Tudo isso em resposta as grandes transformações economicas e sociais de então. Hj também passamos por essas transformações, contudo, os mecanismos de propagação dessas transformações estão "encruados", como disse em gravação
telefonica receptada, o ilustra "DANIEL DANTAS". Reside ai o problema. Daí dizer que este canal recém criado por Nassif. É DEZ.!!!

grato pela participação. Se puder leia de novo o meu post

jair
Responder até Henrique Marques Porto em 21 July 2008 at 18:18
Caro Jair,
"Poderia a arte e a literatura atuar, positivamente, na solução de questões nacionais?" A pergunta de abertura, aparentente simples, na verdade aponta para cabeludíssimo tema que já provocou calvície precoce em muitos intelectuais. Se não estou enganado, o tema é Estética. Nem me atrevo a aprofundar. Mas fico com vontade de reler "Literatura e Vida Nacional", de Antonio Gramsci, livro que li há mais trinta anos e que trata do assunto. [Alguns afirmam que este livro esboça as linhas do que poderia vir a ser uma "estética marxista" -nada a ver com o "realismo socialista"-, já que Marx ou Engels não escreveram sobre estética.] Ferreira Gullar cuidou do tema. Leandro Konder também. Que tal encomendar um texto ao Gullar, por exemplo, para ampliar e apimentar o debate? Acho que ele toparia. Não sei se a saúde perrmitiria ao Konder escrever.
Vou apenas fazer uma pequena observação. Vivi intensamente os movimentos de 1968 -como alguns de nós- e tenho impressão diferente daquela do Vladimir. Não chego a me surpreender com a afirmação que especula com a hipótese de que "se vencedor, o Movimento Estudantil de 68 desembocaria numa extraordinária produção artístico-cultural". Afirmação estranha e esquisita. A explosão cultural e artística imaginada por Vladimir já tinha acontecido! Vinha acontecendo desde o finalzinho dos anos 50. Os movimentos estudantis do final da década de 60 foram, eles próprios, um dos resultados daquela explosão política, cultural e artística iniciada bem antes -aqui e em outras partes do mundo. Acho que Vladimir, de cima dos caixotes nos comícios-relâmpagos da Av. Rio Branco no Rio não conseguia observar o processo cultural em curso. E há uma questão ainda aberta sobre aquele ano fatídico. 1968 foi o começo (interrompido) de alguma coisa ou foi o fim de um processo? E para Zuenir Ventura nem terminou! Assim, 1968 acaba mitificado por uns e mistificado por outros. Certo mesmo é que um ano depois, em Woodstock, jovens de todas as partes do mundo se reuniram numa celebração hoje histórica. Ninguém sabia, mas era uma festa de despedida.
Abraços
Henrique Marques Porto
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Caro Henrique,

Vc foi na mosca. Exatamente isso. Fui símpático (assim acredito) ao deixar a autoria do grande "achado" a Vladimir. Na verdade quem anda falando que aquilo seria uma revolução cultural é o Zé Dirceu (que hoje precisa explicar outras coisas mais apimentadas). Quanto a parte final de seu comentário digo que é complementar ao que modestamente eu quis escrever.

Quanto a um colaborador de peso Gullar ou Konder, só mesmo o Nassif para sensibilizar essa "rapaziada". Endosso sua sugestão.

Só lembrando que esse debate é sobre mídia, e ai inevitavelmente extrapolamos o terreno das idéias e das palavras. É preciso ter força, para não dizer "é preciso ter raça".

grato pelo retorno.

jair alves
caro Jair Alvez,


permita-me participar com trechos de colunas do próprio Nassif (“Parindo o novo”, 28/07/2006):

“E, aí, retorno às analogias com a década de 20. No período, as elites intelectual e empresarial brasileiras davam as costas para o Brasil e tentavam se firmar como elite européia. O deslumbramento era conseqüência do processo de globalização financeira que já entrava em seus estertores. “

“É nesse período que se consolida uma rica cultura popular urbana no Rio de Janeiro. Em São Paulo, os filhos da elite rural montam a Semana de 22, com sede e fome de Brasil. Levaria alguns anos a mais para que essa insatisfação se materializasse em mudanças.”

“Qualquer estudioso da música brasileira verá diferenças fundamentais entre a produção de 1929 e 1930, como se um meteorito tivesse varrido o país e implantado uma nova música. O modo de cantar se moderniza, a estrutura das composições é outra, surgem as marchinhas leves, as interpretações marotas, substituindo os velhos cantores dó-de-peito.”

mais (“O país está vivo”, 29/05/2005)

“Sobre esses anos 20 pairava o mesmo desânimo atual da intelectualidade para com o país. Do alto do poder ou das gôndolas do academicismo, pouco conseguiam ver para baixo. Era um país sem povo, sem cultura, sem projeto, diziam eles. Governos se sucediam sem conseguir inovar, sem romper com o círculo de privilégios.
E, no entanto, algo aconteceu com o país, e foi bem antes de 1930, quando a criatividade popular explodiu de uma forma inédita.”

“É importante entender esses ciclos de maturação, esses processos de hibernação, esse céu negro e ameaçador, que parece paralisar o mundo, mas que precede as grandes tempestades criativas.”

abraços

Prezado Ark (???) não foi possível ver a assinatura com clareza.

Muito boa participação a sua. Mesmo!


Vc apontou aspectos importantes do nascimento expontâneo da cultura popular e imagino que oportuno seria aprofundar esses ítens e participações futuras. Acho no entanto que falta a todos nós (e me é incluo nisso, é claro), apontar uma ligação entre a cultura que se produz (transformação da natureza. No caso natureza humana) e a mídia. A palavra original é Mass Media, com o tempo se transformou no que é hj conhecida. Mais importante - transformou-se também o seu significado. Curioso isso não? Quando surgiu ela veio com sustitutivo de Opinião Pública, ou seja uma média do que se pensava então, ou senso comum. Hoje desformada a palavra quer dizer para muitos (não para mim) sistema, ou conjunto de meios de comunicação. Que loucura, meu caro!!!
Algumas expressões se transformam não só de significado como também são assimiladas pelos inimigos de quem as criou. Curioso por exemplo ver uma manfestação de mulheres de militares contando "caminhando e cantando e seguindo a canção". Isso é pra matar qualquer Vandré, não achâ?

Obrigado pelo retorno

jair alves

Permalink Responder até luzete 1 dia atrás
Jair, você vê que o debate que trata de temas mais permanentes da vida nacional (como a arte, a literatura) não mobiliza os corações. A política é muito mais sedutora, talvez por conta daquele viés pragmatista que, ontem li aqui, em algum lugar do blog. Era alguém que dizia que ser pragmático não era feio. Tudo bem, mas confundir pragmatismo como modo de vida é de doer. Daí que os temas menos pragmáticos, isto é, que exigem reflexão, análise, não esteja na agenda nacional.

Mas esta idéia de sonhar o futuro, da arte como expressão que antecipa o novo, que indica caminhos que estão sendo trilhados e que sequer percebemos (só percebemos quando jogamos as luzes do farol para trás) é sempre muito alentadora. Esta confluência entre a arte e a filosofia é que a faz atraente. Mas num mundo movido pelo consumo e pelo marketing, qual o lugar da arte como vanguarda? É coisa de gente teimosa. Mas não foi sempre assim?

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Luzete,


Não precisava exagerar, né? Não precisava vc me transportar para os borburinhos que antecedem a uma apresentação teatral onde as vezes não comporta mais que 100 pessoas, as vezes menos. É que ali, por uma dessas razões que desconhecemos parece estar reunida toda Humanidade. São essas ilusões que nos mantém vivos. Hj foi dificil acordar "a veiarada" para refletir sobre essa grande presente que Nassif nos deu, ou seja, lançar luzes sobre a Cultura e a Civilização. Foi uma trabalhaeira danada encontrar o ator José de Abreu, correndo mundo com seu espetáculo Fala Zé!!!. Encontrei espero que Nassif volte logo para Sampa e libere os comentários do blog. Acrescento aqui uma foto que estou enviando via e-mail para todos os amigos e jornalistas. Acho que hj é um dia de festa, não sei.
gratíssimo

jair alves -


A foto acima é do Ator José de Abreu preso em passeata em 68. Fizemos juntos uma peça em 1980 logo após a Anistia "Qualé meu". Baseada no livro de Gabeira>

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Responder até André Pavão 1 dia atrás
Prezado Jair,


Ao final da leitura do teu texto me veio à cabeça as questões relativas à "mercantilização" das artes que, em última análise, acaba tolhendo o seu desenvolvimento em geral. Explico com as seguintes perguntas: "o que vende mais? algo diferente ou algo já palatável?".

A grande mídia vai também por este caminho, apostando em assuntos menos polêmicos e deixando o debate para depois. Ficamos todos na média, todos em cima do muro, nem para lá nem para cá, todos pelo "caminho do meio". (nem quero mencionar os auto-elogios e auto-promoções que cada grupo faz a si mesmo em seus meios de comunicação)

Daí as inovações nas áreas da música e literatura e artes gráficas estarem nas periferias das grandes cidades. É possível discutir o resultado estético final destas inovações, mas é impossível negar sua íntima relação com o meio onde estão inseridas e seu papel de espelho e de resposta criativa à sua realidade.

Não por acaso, exatamente esta parcela da sociedade não é consumidora da grande mídia.

E, por acaso, um artigo publicado no "Terra Magazine" do Bob Fernandes, intitulado "A Música é uma causa". (http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI3026717-EI8214,00.html)

As questões que você levanta no seu texto têm eco nas demais cabeças pensantes.

Abs!

André
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André,

Existem muitas perguntas que ainda faltam respostas:

1- Por que Gianfrancesco Guanieri foi aclamado em 1958 interpretando um lider grevista na peça Eles não usam Black Tie e também um operário no filme O GRANDE MOMENTO que deu origem ao Cinema Novo;
2- Por que Raul Cortez se consagrou em 1963 interpretando um anarquista em OS PEQUENOS BURGUESES no teatro Oficina e na mesma época um fanático religioso (de qualquer forma um personagem do povo) em Vereda da Salvação (filme);
3- Mais tarde, tanto Guarnieri interpretando um cidadão do povo PONTO DE PARTIDA e Raul o protagonista de RASGA CORAÇÃO, um comunista tambem encarnaram a esperança nacional?

E hoje grande parte dos meios de comunicação parecem orquestrados atuando diariamente contra o maior lider operário de que temos notícia? Sem tomar partido (não é esse o local para disputas partidárias) por que uma coisa e outra?.

O próprio José de Abreu, que você vê na foto no post anterior, hoje ganha até razoavelmente bem, no entanto não tem espaço para defender em palco o que pensa. Ao menos vive situação diferente daqueles tempos de passeata, "no coração do Brasil".

Não creio que a questão seja só financeira. Mas estou disposto a rever minha leitura. Grato pelo retorno.

jair
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Jair e demais,


a cultura dentro de uma expressão mais estrita (literatura, cinema, música) não atua e não enriquece as discussões nacionais justamente pelo fato que a cultura política esta desprovida de aprofundamento?

Não se trata da substituição de uma pela outra. Acho que nem existe uma sem a outra.

Também uma não pode estar a serviço da outra: isso já deu muito pano para discussão.

A produção artística (produtos culturais acabados) e as grandes questões nacionais parecem pairar em espaços separados.

Quando a política aparece numa obra é por meio de piada ou pseudodramaticidade.

A cultura popular "piece de resistance" de puristas quanto menos é praticada mais é usada como argumento para preservar o nada.

Politica na arte ou arte na política é sempre coisa dos "outros".

Como nosso assunto é midia (e não que isto restrinja o alcance) peguemos como exemplo o jornalismo cultural. Existem cadernos de cultura ou semanario de releases? Menu de possibilidades ou jabazinho básico?
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Ricardo,

De pleno acordo. O ideal é que tivessemos grandes divergências e ai sim sinto que cumpriríamos o propósito não só desse grupo, mas e principalmente da própria comunidade - a de produzir conhecimento (como diz Nassif na abertura).

Mas creio que ainda é possível avançar a partir de suas observações e gostaria que isso aparecesse nos artigos que por certo virão. A saber:

A política de fato não tem aparecido na manifestação artística de forma eficaz porque também a praxis política não tem correspondido a tudo que foi discutido ao longo das duas décadas de eleições diretas. Essa está circunscrita às próximas eleições. Um candidato é eleito prefeito hoje para ser candidato a governador na próxima.

O que isso tem a ver com a mídia? Tudo. A população tem o direito de politiza ou não seus problemas no dia a dia e não somente durante a troca de guarda. Os meios de comunicação que deveriam lançar luzes sobre esses problemas acabam criando um pastiche dessas questões. Creio ser preciso criar outras formas de organização e mostragem das artes, da literatura e de toda produção intelectual. Canais como esse (a comunidade) está suprindo timidamente esse papel organizador. É um alento, mas não é tudo.

jair alves.

Galera,
O Terra
Magazine publica interessante entrevista com Seu Jorge. Numa resposta ele toca no tema em pauta aqui no Grupo. Diz ele:
"Nós estamos num momento, irmão, em que o país parece que quer se desenvolver, crescer, está começando pelo menos a ter um olho internacional voltado para si. Hoje mesmo saiu uma notícia sobre o crescimento na geração de emprego. Isso é o reflexo de uma situação econômica nova, de uma moeda um pouco mais forte, de uma política exterior mais estabilizada - apesar de haver turbulência, apesar de haver toda uma crise mundial e o mundo estar uma cagada. É importante agora estarmos mais abertos, olhando cada um na cara do outro, estimulando o desenvolvimento da coletividade. Quem é da música, da arte, da comunicação tem que estar atento a essa mudança. Tem uma geração nova chegando. O garoto de dez anos daqui a pouco tem vinte e começa a pensar, julgar, votar. A gente tem que deixar uma mensagem positiva de união e desenvolvimento. E nada como encontrar as pessoas para poder falar dessas coisas e bater esse papo."
Estar atento às mudanças...chave que abre muitas portas.
A íntegra está em http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI3028893-EI6581,00.html
Abraços
Henrique Marques Porto

Responder até wedencley alves 25 minutos atrás
Jair Alves


Seu texto é uma fonte excelente de reflexão, parabéns.

Vou tentar contribuir, citando um problema que atinge as faculdades de jornalismo no país.

Até o início dos anos 80, faculdades de comunicação eram também lugar de "ativismo estético". O tripé da formação do profissional de comunicação era: 1) a formação técnológica; 2) a formação teórica (de base histórico-social); 3) a formação estético-reflexiva.

De meados dos anos 80 para o decorrer dos anos 90, sofremos uma mudança, ao meu ver, bastante daninha para a formação do jornalista que, em última instância, é um agente importante no tratamento e divulgação da cultura.

A redução a que me refiro é a que praticamente bane a preocupação com as questões estéticas nas grades curriculares dos cursos de comunicação e nas atividades de campus.

Estudante de comunicação era necessariamente um estudante criativo e, não raro, envolvido com teatro, música, cinema, literatura etc.

Depois das duas décadas, estudante de comunicação é aquele que sabe editar imagens, editar jornais, construir leads, sites, ter presença de câmera etc. E geralmente não muito mais que isso.

É evidente que a formação tecnológica, num campo tão dinâmico quanto o da comunicação, é fundamental.

Mas o discurso pragmático que praticamente impõe o tecnológico como a única instância necessária na formação do jornalista, com alguma concessão às disciplinas de caráter histórico-social, é antes de tudo um discurso que visa a formação de repetidores, de sujeitos pouco reflexivos.

Não por implicância, não custa lembrar que esta guinada nos cursos de comunicação se deu concomitantemente à ascensão das pregações neoliberais, de acordo com as quais deve-se tudo ao mercado e ao mercado se tecerá as únicas loas possíveis.

Se quisermos entender por que nossos cadernos culturais, hoje, são eminentemente "agendas de lazer", é preciso que se volte à formação do jornalista, e, principalmente, ao imperativo mercadológico da Indústria Cultural, que vivenciamos há três décadas.

Ninguém aqui é tolo o suficiente para acreditar que toda a Indústria Cultural é um ninho de alienação e pensamento evasivo.

Mas também não podemos deixar de ser críticos, quando a alienação e o pensamento evasivo tornam-se regras quase absolutas.

Um dia a Rede Globo fez o grande bem para o brasileiro de trazer a obra de Edu Lobo (Som Brasil).

Exatamente às 2 horas da manhã. Graças à lei da concorrência.

Ou da insônia dos insistentes.
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Permalink Responder até Jair Alves 1 segundo atrás
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Caríssimo wedencley Alves,


Sua contribuição ao tema é indispensável e espero ampliar o número de refletores sobre o que diz, se me permite.

De fato a formação dos novos profissionais do jornalismo é de extrema importância, em especial num tempo em que não sabemos qual a nova orientação do Deus Mercado, que nunca se sacia. Acabo de ler por indicação de Henrique "um companheiro desse nosso beliche", uma entrevista de Seo Jorge para Terramagazine. Como é que se explica a projeção dos grandes talentos brasileiros no mercado exterior, enquanto aqui mal o conhecemos?
Acompanha Seo Jorge, os filhos de Simonal e uma dezena deles, que só conhecemos pelo YUOTUBE. Ao mesmo tempo Jorge fala de seu desejo de distribuir gratuitamente seu CD. Algo acontece e "nem sequer sonhamos".

Pois bem, alargando o horizonte de sua observação a respeito das mudanças entre 80 e 90, lembro que em 93, as circunstâncias me polemizar com o então deputado e ex-lider estudantil José Dirceu a respeito do novo cenário de guerra mundial, e onde se travaria a nova batalha. Alertei segundo o que já havia lido e vivenciado que as mesmas seriam travadas pelo controle dos meios de comunicação, não mais nas ações guerrilheiras dos grupos rebeldes nas montanhas da Nicarágua ou Salvador. Ele, arrogante e cheio de auto confiança, repetia uma ladainha que ainda hoje ouço: "a maioria da população não tem dinheiro para comprar jornal, ler um livro". Disso eu sei, mas isso com certeza não é problema meu. Melhor dizendo, não tenho poderes para interferir no planejamento que vai modificar essa situação. O ilustre deputado, ou cassado, afirmou uma série de contundências que afinal não se concretizaram, dentre elas a tal criação de um Conselho Nacional de Comunicação. Se foi criado, ao menos não se transformou em algo eficaz. Desse insólito diálogo surgiu um pequeno livro “ESCUTA ZÉ DIRCEU”. Se não serve para muita coisa, serve ao menos para demonstrar onde o todo poderoso ex-chefe da Casa Civil errou.

Nesse mesmo grupo de discussão alguém falou sobre dificuldade que se tem para colocar a Cultura no centro dos debates, e que a Política parece a todos mais palatável, mais imediata. Isso é verdade para aqueles que estão motivados a intervir diretamente no andar da carruagem, como os lobistas etc e tal, não para a maioria da população que não está engajada na disputa partidária. A Cultura desde sempre foi resultado da ação do homem sobre a natureza, em nosso caso, sobre a natureza humana.

Complicado vai ser meu caro wedencley, quando os manuais de redação nos obrigar a escrever em inglês, ou javanês. Ai eu já não sei...

Grato e obrigado pelo imerecido elogio ao texto.

Jair Alves

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